A Nossa História

Decorria o ano de 1908. Por toda a Europa se agitavam ventos de mudança. O mundo procurava novas forma de vivência em sociedade mas em Portugal, e não só, era difícil romper com o feudalismo, só visionários lutavam contra o marasmo, o medo e atavismo. Em Fânzeres, freguesia nessa época muito rural do Concelho de Gondomar, havia também homens animados do sonho da liberdade, cultura e progresso social. E foi desse sonho que se formou em 5 de Outubro daquele ano o Centro Republicano e Democrático de Fânzeres, data premonitória da implantação da República que viria a ocorrer exactamente 2 anos depois. Dado o perigo decorrente de tais actividades, em época em que elas eram severamente punidas, a primeira sede social situou-se na residência de um dos fundadores, transitando depois para a Rua do Valado, uma casa baixinha conhecida pelo nome de “Ti Primo”, durante algum tempo, vindo depois a fixar-se no edifício (Rua da Igreja 306).

Está assim apresentado o nascimento da mais antiga colectividade de Fânzeres e uma das primeiras a nascer no Concelho de Gondomar, pioneira do Associativismo de raiz popular no Concelho e no País, e de cuja actividade muito beneficiou o movimento Republicano que derrubou a monarquia e implantou o primeiro regime Republicano e Democrático em Portugal.

Entretanto, já nesse ano o País vira com enorme regozijo serem eleitos maioritariamente representantes Republicanos para a importante Câmara de Lisboa.

Eram nessa época enormes as carências das populações, sobretudo pela falta de ensino básico que mantinha longas camadas no mais puro analfabetismo, impedindo-as por essa via de ascender a qualquer lugar de relevo, bem como às notícias que anunciavam as mudanças que por todo o lado ocorriam.

Conjuntamente com outros Centros Republicanos que entretanto se foram formando, também o nosso Centro inseria nas suas actividades a instrução e a cultura, bem como deu a conhecer os altos valores civilizacionais da República.

Acontece porém que a chamada Regeneração da República, movimento surgido para fazer face ao avanço democrático do regime e que procurava acompanhar a implantação de regimes fascistas, na Europa, sobretudo após a 1ª Guerra Mundial e o surgimento da Revolução Russa, proporcionou o golpe militar de Maio de 1926, que teve nefastas consequências para os Centros Escolares Republicanos e às quais o “nosso” Centro não pode fugir.

Com a Constituição de 1933, e a instauração do Regime Fascista, tal como os demais, o Centro Republicano e Democrático de Fânzeres, passou a ser alvo de perseguições políticas, e outras, a tal ponto que por via da feroz repressão, foram-nos saqueados importantes documentos, tais como actas e outros de grande importância para os historiadores.

Mesmo assim, o Centro Republicano e Democrático de Fânzeres, ao contrário de outros que fecharam as suas portas compulsivamente, mesmo obrigado a mudar de nome, sempre soube resistir. Primeiro para Centro D’Instrução e Recreio de Fânzeres, para mais tarde em 1960, sofrer por imposição da ditadura nova mudança de nome, passando a denominar-se Associação Recreativa de Fânzeres, nome que perdurou até à Revolução do 25 de Abril de 1974.

Já em plena Democracia, numa memorável Assembleia Geral Extraordinária, realizada para o efeito a 4 de Novembro de 1978, voltou por vontade expressa e aclamação dos associados a ostentar o nome original. A designação original, nunca deixou de estar na mente dos seus responsáveis, assim como o “encarnado – verde”  nunca deixou de ser a cor da nossa bandeira. Este nome e esta bandeira estiveram sempre presentes em todos os momentos de exaltação Patriótica e Democrática a que sempre anuímos, mesmo em condições adversas, que foram acontecendo praticamente ao longo do século.

Acreditamos que o Movimento Associativo Popular enquanto impulsionador dos valores da justiça, Igualdade Social, da Liberdade e Cultura para todos, e no qual nos inserimos, contribuirá para o progresso social e valorização humana, assente na Solidariedade e Paz.    

CONSTRUÇÃO DA NOVA SEDE - COMEÇO DE UM NOVO CICLO DE VIDA

Tudo começou na Autarquia de Fânzeres em Abril de 1999, aí foi-nos proposto a construção de uma nova sede desde que aceitássemos sair do local onde nos encontrávamos sediados á quase um século. Isto mesmo pedido em Dezembro pelo vice-presidente da Câmara, a quem propusemos que naquele mesmo local aquando do arranjo urbanístico passasse a figurar Praceta do Centro Republicano.

Face ao que nos foi proposto demos a nossa anuência, todavia como medida de salvaguarda assente em ideias bem firmes, designadamente:

Primeiro - desde que do ponto de vista de localização não houvesse qualquer desvirtuamento.

Segundo - que o novo espaço a construir corresponde-se à nossa ação tida antes em prol do Progresso Social e da cidadania associativa, e sobretudo aos nossos mais justos anseios numa perspetiva de futuro.

Dado o interesse mútuo julgava-mos ser um processo rápido. Porém só em 04 de Outubro de 2001 em sessão solene e publicamente foi-nos dado conta do local, bem como os moldes de construção, e de que a nova sede quando construída ficaria a ser propriedade do Centro.

Renasceu a esperança do começo para breve, contudo o que se verificou a seguir é que estávamos em presença de um parto difícil, só aliviado quando surgiu o anúncio da oferta do projeto, um nó difícil de desatar. Só mesmo desatado em 27 de Agosto de 2008. Ainda assim só em fins de Setembro de 2009 e após bom sofrer começou-se a construir!

Até que, em 22 de Maio do ano 2011 e ao som do troar da fanfarra dos Escuteiros de Fânzeres, as gentes da nossa “Terra”, vestida de curiosidade assistiu ao retirar da nossa bandeira e saída do nosso “Velhinho” Centro, agora sim rumo à nova sede social! Ali mesmo a espreitar.

Tratou-se de uma cerimónia simples, no entanto de grande alcance associativo e que constará da nossa “Memória” coletiva. Sobressai: e aqui foi bem visível a emoção em certos rostos, com lágrimas à mistura, sempre se lá viveu bem próximo de 100 ANOS!!!

Colocada a bandeira nas mãos do filho do sócio Nº1, isto em homenagem a título póstumo do seu Pai Joaquim Magalhães Godinho, pois o seu desaparecimento ainda era recente.

Ainda ao som do troar da fanfarra, seguiu-se o desfile a anteceder a inauguração da nova sede, momento de grande exaltação engalanado pela multidão presente, enchendo-nos de alegria.

Cumpridas as formalidades protocolares – hasteamento das bandeiras, descerramento da placa alusiva à inauguração com a presença do Exmº Sr. Presidente da Câmara Municipal de Gondomar (Major Valentim Loureiro) já no salão constaram ainda intervenções de convidados, entidades oficiais e dirigentes.

A partir daqui foi o começo de um novo ciclo de vida, sem sombra de pecado prestava-se assim homenagem aos nossos fundadores e a todos os que com o seu dedicado empenhamento tanto contribuíram para tamanho acontecimento, enriquecendo sobremaneira ainda mais o nosso potencial recreativo, cultural, social e desportivo.

Como real valor dos nossos princípios fica-nos o impressionante legado da nossa histórica fundação, contra a tirania e o fascismo, importante contributo em defesa da liberdade associativa e pela emancipação de uma sociedade Civil mais Humana, isto mesmo, também se aplica nos nossos dias!

A NOVA SEDE SOCIAL